terça-feira, 23 de abril de 2013

Teste: Toyota Etios XLS 1.5 sedã – Razão desmedida




por Michael Figueredo
Auto Press


Em segmentos superiores, os sedãs são associados à beleza e ao requinte. Com os sedãs compactos não é bem assim. Os consumidores são movidos pelo preço e pelo espaço que o carro oferece. Ainda assim, a emoção não pode ser desprezada. É isso que o Toyota Etios vem comprovando desde que foi lançado. O objetivo inicial era apelar para o lado racional em mercados emergentes. Oferecer a confiabilidade da marca com espaço e preço acessível. Mas no Brasil, essa lógica não funcionou de cara. Principalmente porque o preço de R$ 43.400 estabelecido pela Toyota confrontou o Etios sedã com rivais de respeito, como o Chevrolet Prisma e o Hyundai HB20S. No primeiro momento, o bom conjunto mecânico e o baixo consumo de combustível do modelo não foram capazes de fazer o consumidor abstrair do design pouco inspirado e do interior com acabamento abaixo da média. 
O caso é que as compras alimentadas pela emoção são as feitas por impulso, enquanto as racionais são feitas de forma calculada e levam um tempo para ganhar fôlego. O comportamento das vendas do compacto da Toyota seguiu rigorosamente esta lógica. A média esperada pela marca era de pouco menos de 70 mil unidades nos três primeiros anos do Etios no Brasil. Isso corresponde a 6 mil unidades mensais, sendo 4 mil para a versão hatch e 2 mil para a sedã. Só que a média dos primeiros meses de comercialização do sedã ficaram bem abaixo disso, em torno de 800 unidades mensais. Mas neste começo de 2013 a coisa mudou. Nos três primeiros meses de 2013, o Etios sedã manteve a média de 1.770 licenciamentos mensais – número bem próximo do almejado pela montadora.

O fator tempo tem contado a favor do sedãzinho da Toyota. Isso porque suas qualidade passam a ser mais conhecidas, mas também porque a desarmonia de suas linhas ficam menos notáveis. Outro fato que certamente ajuda nesta recuperação é a “correção informal” do preço do modelo promovida pela marca. A partir de feirões e promoçòes, o Etios sedã fica, na prática, mais barato que os rivais e do que o valor inicialmente pretendido pela fabricante. Seja por descontos diretos, seja através de brindes valiosos como  aparelhos de TV, bônus em combustível ou IPVA pago para os compradores.




O que o Etios tem a oferecer, além do distintivo da Toyota, é uma grande vocação para o dia a dia na cidade. O sedã é equipado por um motor de 1.5 litro flex, com comando duplo no cabeçote. A potência de 96,5 cv a 5.600 rpm e o torque máximo de 13,9 kgfm na faixa de 3.100 giros sugerem boa agilidade. O propulsor é sempre acoplado a uma transmissão manual de cinco velocidades. O design pouco atraente e conservador segue a tradição da Toyota. As linhas do Etios são extremamente simples e não há sequer um detalhe que desminta a intenção espartana do projeto. A linha de cintura é retilínea e os vincos do capô ajudam a melhorar o aspecto do sedã. Mas o friso cromado na tampa do porta-malas e a grade frontal, com uma curva que dá um aspecto “sorridente” ao compacto, são as principais características estéticas do modelo.

No interior do Etios, fica evidente que é um carro destinado a mercados emergentes. E o excesso de objetividade deixou a cabine com aparência simplória. O quadro de instrumentos fica em posição nada comum, no centro do painel. Os mostradores seguem a pobreza peculiar ao sedã. O velocímetro e o conta-giros são analógicos. Há ainda uma tela de LCD com o hodômetro e um minúsculo marcador de combustível. O básico rádio e os comandos do ar condicionado aparecem logo abaixo. Não há qualquer indício de requinte, mas também não falta espaço – principal atrativo do interior do sedã.
    
A lista de equipamentos de série é razoável. Na versão testada, a XLS com motor 1.5, estão presentes ABS e airbag duplo, obrigatórios a partir de 2014, além de ar-condicionado, alerta de portas abertas, direção, vidros e travas elétricos e desembaçador traseiro. Também são de série o rádio/CD/USB, os faróis de neblina e rodas de liga leve de 15 polegadas. Uma receita simples para atingir planos objetivos.




Ponto a ponto

Desempenho  O motor 1.5 tem força suficiente para mover o Etios. Associado ao baixo peso, de 980 kg, o propulsor dá alguma agilidade ao sedã. Além disso, o bom torque deixa o carro rápido nas arrancadas e retomadas, com boas respostas nas situações exigidas pelo cotidiano urbano. Nota 8.

Estabilidade  Pode-se dizer que o Etios é “bom de curvas”. Significa que o carro é bem acertado, que resulta em firmeza e equilíbrio. Nem mesmo as curvas mais exigentes tiram do motorista a sensação de controle. Ao trafegar em velocidades mais elevadas, a estabilidade diminui, pois o sedã flutua um pouco. Nota 7.

Interatividade –  Fica claro que a Toyota privilegiou o comportamento dinâmico em detrimento da relação “motorista-carro”. O compacto, mesmo em sua versão topo, não oferece itens banais como ajuste elétrico do retrovisor ou computador de bordo. O rádio está longe de ser moderno e o sistema de áudio também não é dos melhores. A posição do painel de instrumentos, centralizado, além de não agradar visualmente e é pouco funcional, já que as informações ficam confusas e distantes do condutor. A maior interatividade ocorre com os sons exteriores, pois o isolamento acústico do Etios é inexistente. Ao menos a visibilidade externa é boa. Nota 5.

Consumo –
 O Programa Brasileiro de Etiquetagem classificou o Etios como “A” no segmento e “B” no geral. A média registrada pelo InMetro é de 8,7 km/l com etanol e 12,6 km/l com gasolina. Nota 8.

Tecnologia – O lado tecnológico não é o forte do Etios, que oferece poucos equipamentos em todas as versões. O rádio é simples e não há sequer computador de bordo. Também faz falta o ajuste elétrico dos retrovisores. Porém, é montado sobre uma plataforma nova, de 2010, e movido por um motor que consegue aliar desempenho e bom índice de consumo. Nota 7.

Conforto – A Toyota acertou ao calibrar a suspensão do Etios de forma macia, mas os pneus finos permitem que os impactos das irregularidades sejam transmitidos aos passageiros. O sedã oferece espaço para cinco adultos, mas falta ergonomia aos bancos. A marca evitou usar qualquer material fonoabsorvente e diminuiu até a espessura dos vidros para deixar o carro mais leve. Os ruídos externos e do motor invadem diretamente a cabine e impedem até uma conversa em tom normal. Nota 5.




Habitabilidade – O Etios proporciona bom espaço. Há poucos porta-objetos, mas o existente no console central é bastante acessível e supre a necessidade. A abertura do porta-luvas e o formato da tampa quase reduzem a efetividade de seu tamanho. Nota 7.

Acabamento –
 O interior do Etios impressiona mal. Não há qualquer sinal de requinte e os plásticos utilizados não agradam. Como são peças inteiriças, geram poucos rangidos – pelo menos no modelo testado, com pouco uso. Não há desleixo ou rebarbas na montagem, mas o material usado tem sempre aspecto e textura desagradáveis. Nota 4.

Design – A Toyota costuma ser conservadora no visual de seus carros. Mas o Etios eleva essa característica ao máximo. Suas linhas parecem ter saído de uma prancheta dos anos 90. Não há nada que chame a atenção no design do compacto, que exibe linhas bem diretas e um perfil bastante comum. Pequenos detalhes, como o recorte da tampa do porta-malas e o formato da grade dianteira tentam amenizar a simplicidade do sedã, mas sem qualquer sucesso. Nota 5.

Custo/benefício – O Etios é um modelo que briga declaradamente com carros de entrada das outras marcas. O sedã tem bom comportamento dinâmico. O problema é que a maioria dos rivais conta com mais recheio e charme. Enquanto o compacto da Toyota custa R$ 43.400 e fica devendo itens como travamento automático das portas em movimento, retrovisores elétricos e computador de bordo, o Chevrolet Prisma 1.4, com esses equipamentos inclusos, custa R$ 42.390. O Hyundai HB20S, com motor 1.6, sai por R$ 44.995. Não conta com os retrovisores elétricos mas oferece, entre outros itens, regulagem de altura do banco do motorista. De positivo, o bom consumo de combustível. Nota 6.

Total – O Toyota Etios somou 62 pontos em 100 possíveis.




O Toyota Etios não atrai pelo impacto visual. Ao contrário. Tudo no carro é pragmático. As linhas são previsíveis e nada surpreendentes. O interior do sedã segue o mesmo estilo. Todos os materiais passam a sensação de falta de requinte. Por outro lado, a exatidão dos arremates agrada, mas a aparência dos revestimentos internos transmite a sensação de falta de qualidade. E, se a cabine não é sofisticada, ao menos oferece bastante espaço. O habitáculo é grande internamente e comporta cinco adultos sem problemas.

Alguns itens que facilitariam a vida do motorista fazem falta. Como a ausência de ajuste elétrico para os retrovisores, mesmo na versão de topo. O banco do motorista não tem regulagem de altura e o volante só é ajustável na altura. Ao girar a chave, o conforto é insultado pelo fraco isolamento acústico, que permite a entrada de todos os ruídos do entorno na cabine.





Já dinamicamente o Etios vai um pouco melhor. A direção elétrica facilita a condução e as manobras e o  conjunto dinâmico é correto. O motor, aliviado por empurrar um carro emagrecido de itens de conforto, mostra uma boa agilidade. A transmissão tem engates certeiros e a suspensão é bem ajustada, mas é um tanto atrapalhada pelo pneus finos. Ainda assim, há pouco oscilação de carroceria nas curvas. Como é muito leve e pouco aerodinâmico, o sedã sofre explicitamente os efeitos de ventos laterais – o balanço da cabine é sentido não só pelo motorista, mas por todos os ocupantes.

Em velocidades mais elevadas, o Etios fica excessivamente impreciso. No trânsito  da cidade, porém, o motor 1.5 não tem qualquer dificuldade para mover o sedã. O torque não demora a aparecer, o que resulta em rapidez nas arrancadas e boa resposta nas retomadas. E, por mais que a música da campanha publicitária fale das “curvas da estrada de Santos”, a maior vocação do Etios é claramente o uso urbano.








Ficha técnica

Toyota Etios XLS 1.5

Motor 1.5: A gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 1.496 cm³, quatro cilindros em linha, com quatro válvulas por cilindro e duplo comando no cabeçote. Injeção eletrônica multiponto e acelerador eletrônico.
Transmissão: Câmbio manual de cinco marchas à frente e uma a ré. Tração dianteira. Não oferece controle eletrônico de tração.
Potência máxima: 92 cv com gasolina e 96,5 cv com etanol a 5.600 rpm.
Aceleração 0-100 km/h: 11,3 segundos
Velocidade máxima: NI.
Torque máximo: 13,9 kgfm com gasolina e etanol a 3.100 rpm.
Diâmetro e curso: 75 mm X 84,7 mm. Taxa de compressão: 12,5:1.
Suspensão: Dianteira independente do tipo McPherson, com triângulos inferiores, amortecedores hidráulicos e barra estabilizadora. Traseira com rodas semi-independentes, com eixo de torção e molas helicoidais, amortecedores telescópicos hidráulicos e barra estabilizadora. Não oferece controle eletrônico de estabilidade.
Pneus: 175/65 R14.
Freios: Discos ventilados na frente e tambores atrás com ABS.
Carroceria: Sedã em monobloco com quatro portas e cinco lugares com 4,26 metros de comprimento, 1,69 m de largura, 1,51 m de altura e 2,55 m de entre-eixos. Oferece airbags frontais. Não oferece airbags laterais nem de cabeça.
Peso: 980 kg em ordem de marcha.
Capacidade do porta-malas: 562 litros.
Tanque de combustível: 45 litros.
Produção: Sorocaba, Brasil.
Lançamento mundial: 2010
Lançamento no Brasil: 2012.
Itens de série: Airbags frontais, luz indicadora de portas abertas e para-choque na cor do carro, freios ABS, direção elétrica, desembaçador traseiro, ar-condicionado, vidros e travas elétricas, conta giros, rádio/CD/MP3/USB, maçanetas e retrovisores na cor do carro, apliques cromados no exterior, rodas de liga leve de 15 polegadas, faróis de neblina, alarme com acionamento à distância.
Preço: R$ 43.400.  


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Fonte: Motor Dream 

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